Espaço de emoções sentidas? Memórias?Estados de alma?Desabafos?Palavras ditas e outras que ficaram por dizer?

Tributo a poetas? Pequenas homenagens?

Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?


Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!

domingo, 29 de abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

"Porque os outros se mascaram mas tu não"...ou a minha modesta homenagem!

Miguel Portas - 1958-2012

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



Sophia de Mello Breyner

domingo, 22 de abril de 2012

A felicidade maior...

De manhã
dás-me o teu sorriso
e eu penduro-o na minha cara.

Vitor Encarnação

Ardo...


No leito aberto do teu corpo
não durmo.
Ardo.
Entranho-me humidamente
num fogo de cerejas
que cresce no teu peito.
E a meio de ti,
nesse vértice incendiado,
sorvo água
nascente
das raízes
da tua carne

                                                                  Vitor Encarnação

domingo, 15 de abril de 2012

Magia


                                                                    Hoje sonhei contigo!
                                                 ... Sonho é o lugar onde a felicidade existe!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Deito-me a teu lado...

Deito-me a teu lado. Sou a tua sombra
no lençol. Vou decifrar a luz dos teus olhos,
não me dás tempo. Os teus dedos tocam-me no rosto,
descem à garganta, começam a soletrar
o mapa do meu corpo: um grão sob a axila, uma pálpebra
que cintila, o rubor do mamilo
e já teus dentes se ocupam
do outro. Pressionas músculos e ossos
ao mesmo tempo que toco ao de leve
um seio, um lábio: quero deter-me no joelho
onde leio quedas na neve
e no ballet. Não me dás tempo.
Os corpos rodam, as mãos buscam outra terra,
outras águas. Os seios na virilha,
a barriga no pescoço. Estaremos a caminhar
demasiado depressa? Acaricias onde prometo
uma haste de sol. Uma casa voadora
na margem deste mundo tão previsível.
Erigimos com os nossos corpos
a mais efémera das esculturas. As tuas mãos
convidam-me a voar. Agora sou eu
quem não te dá tempo, escavando e descendo
à fenda silenciosa. Ouço-a. Um canto leve
e depois allegro e depois mais fundo.
Já não sei onde estou, quem sou
sobre as fontes e os rios e os abismos
de ti. Sentas-te, lama delicada, no meu peito
e desces e ajustas os teus ninhos
ao pequeno pássaro que pouco a pouco
se agita. Palpo e bebo e retenho a terra volátil.
a espuma, a vegetação de coxas, nádegas, mamas e águas
flutuantes. Ora subo ao chão ora me enterro
no ar, no lábio onde começa uma árvore
que se eleva até às nuvens. Não me dás tempo,
eu quero a eternidade mas tu não me dás tempo
para te contemplar. Ânfora nua
que bebo por fora e por dentro.
Dou-te a minha vida em troca da tua.
 
                                                               Casimiro de Brito

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A tua imagem


Nem os dias longos me separam da tua imagem.

Abro-a no espelho de um céu monótono, ou

deixo que a tarde a prolongue no tédio dos

horizontes. O perfil cinzento da montanha,

para norte, e a linha azul do mar, a sul,

dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia

quando, ao dizer o teu nome, a realidade do

som apaga a ilusão de um rosto. Então, desejo

o silêncio para que dele possas renascer,

sombra, e dessa presença possa abstrair a

tua memória.

Nuno Júdice

Saberás?




Quero dizer-te uma coisa simples:

a tua ausência dói-me.

Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma;

mas que não deixa, por isso,

de deixar alguns sinais -

um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos.

Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto.

São estas as formas do amor,

podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples

também podem ser complicadas,

quando nos  damos conta da diferença entre

o sonho e a realidade.

Porém, é o sonho que me traz a tua memória;

e a realidade aproxima-me de ti,

agora que os dias correm mais depressa,

e as palavras ficam presas numa refracção de instantes,

quando a tua voz me chama de dentro de mim -

e me faz responder-te uma coisa simples,

como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice