Espaço de emoções sentidas? Memórias?Estados de alma?Desabafos?Palavras ditas e outras que ficaram por dizer?

Tributo a poetas? Pequenas homenagens?

Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?


Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Só Tu


De todas as que me beijaram,
De todas as que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei...
Foram tantas as que me amaram,
Foram tantas as que eu amei.
Mas tu, que rude contraste,
Tu que jamais me abraçaste,
Tu que jamais me beijaste,

Só tu nesta alma ficaste,
De todas as que eu amei...


Fernando Pessoa

domingo, 17 de abril de 2011

Só as tuas mãos trazem os frutos



Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos

Eis-me




Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente


Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

Solidão


Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas...
Mas sei por fim que sou do teu tamanho!


Pedro Homem de Mello

Um bom poema...


Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!

Mário Quintana

Toda a poesia


Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.

Fernando Pessoa

sábado, 16 de abril de 2011

Sem escolha...


Não sou poeta. Falta-me algo...
A dor, decerto não é. Tão pouco o amor, essa coisa sem tamanho que me tira o ar...e me ressuscita...
Falta-me o talento da palavra solta, o bem saber debochar das letras, o jogo do mostra-esconde das intenções.
Sou de terra, e por mais que crie asas, meus pés ainda assim terão raízes...
Dói-me tanto esse fixar-me!
Por que não nasci sob peixes?
Seria mais fluida talvez, menos objetiva, com menor senso prático, como convém a um poeta....
Quem sabe as crônicas?
As malditas crônicas da realidade, feitas de contas do final do mês, da novela das oito, dos porres tomados embaixo da mesa...
Dessas bem sei falar.
Mas o que quero é a poesia entranhada em meus cabelos, resistindo ao vento e à escova de cerdas sintéticas!
Quero-a correndo em minhas veias, disfarçada de hemácias, incógnita ao meu sistema de defesa.
Quero-a em minha boca...Na fumaça de meu cigarro, no ardor de uma bebida, na doçura de teu beijo!
Quero-a fluindo de mim, em gotas de suor, espalhando o meu cheiro pela sala de estar...
Quero vê-la no espelho que me reflete, escorrendo de meus olhos, inundando minha face de dor e alegria!
Quero-a eterna companhia.
Desejo gritá-la, cantá-la, senti-la definindo o tom de minha voz, a cor de meu olhar, o sentido de minhas palavras!
Mas facilmente descubro que querer não é poder...
São só palavras o que posso parir de minha alma. A poesia está restrita aos meus sonhos.
Não sou poeta. Apenas alegre, às vezes triste.
E assim vão passando os meus dias...
E assim vão passando os meus versos...
E assim vou passando!

Aila Magalhães

Tua


Devolvo-te...
Todos os beijos e abraços,
Devolvo-te os poemas e a infinita saudade...
Devolvo-te as noites insones
Devolvo-te as promessas
Os encontros furtivos sob o olhar do imprevisível...
Devolvo-te a intimidade
Devolvo-te os sonhos e também todos os planos
Tudo que foi dito, pensado, escrito, sentido, desejado
Todo o prazer consumado...
Devolvo-te toda a agonia, a espera,
Devolver-te-ia se pudesse até a lua...
Todos os sorrisos, todos os gozos...
Devolver-me-ia inteira... Sou tua!

Aila Magalhães

Desabafo


Estou tão cansada de esperar...
pelo dia que não vem,
pela chuva que não chega,
pelo mar que não traz de volta
o sonho que me levou um dia.
Ah! Como eu queria,
que a cada amanhecer
nascesse um novo dia
sem receios para recomeçar.

Andrea Lopes

... e eu que te amava tanto...


e eu que te amava tanto
ando suspeitando
que perdi algo em ti
perdi um pouco
do meu olhar
que se perdia no teu
perdi um pouco
de minhas mãos
que tocavam teu corpo
perdi um pouco
daquele gosto teu

e eu quem era quando te amava?
agora sinto-me assim tão solta
que vago pelas ruas respirando
tanta ausência tua
que sufoco a todo instante

Andréa Bianchi

Gostoso


Gosto de pensar.
Gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto de pensar.
Gosto do gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto gostoso de ti.
Gosto gostoso de ti.
Gosto de ti, gostoso.

Ana C. Pozza

Caleidoscópio


Não sei se foi com faca,
espada,
ou punhal!

Só sei que me feriram...
Com o golpe
eu me fiz em pedaços,
qual um espelho,
quando cai no chão!

E, agora,
cada vez que junto os cacos
sai uma mulher diferente...

Albertina Moreira Pedro

Quem és?!


És a loucura
da minha alma nua
do sonho que flutua
a luz da lua
Desta ferida crua
da vida que continua!...

Daisy Maria Gonçalves Leite

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Que poderia dizer-te...


Que poderia dizer-te, amor meu
que já não tenhas percebido
em meus olhos
que já não tenhas pressentido
em meus gestos
que já não tenhas observado
em minhas inquietações?
Que poderia dizer-te, amor meu
que já não tenhas sentido
em meu olhar sedento de ti
que já não tenhas lido
em minhas humildes palavras
que já não tenhas vivido
em nossas vidas passadas?
Que novas palavras teria que inventar
para mostrar-te a grandiosidade
deste sentimento que nos une,
a força impetuosa deste amor
tão meu, tão teu, tão nosso!
Que outras poesias teria que criar
para enaltecer meu amor por ti,
amor que me faz transcender
minhas próprias limitações
e que faz de mim tua companheira imortal...
Que mais poderia dizer-te, amor meu
além de confessar que te amo?

Luh Oliveira

Ellas se masturban


Y no me equivoco
cuando me invoco,
no me equivoco cuando
me prognostico, me incito.
No me equivoco
cuando me disparo un tiro
de amor propio
justo en mi centro
del centro
de mi centro
para asesinar al fantasma de
soledad y miedo
que cada noche aborda mi cama,
invade mi aire,
viola mis sueños
o escupe en mi cara.


NURIA MEZQUITA

Quando yo muera


Cuando yo muera quiero tus manos en mis ojos:
quiero la luz y el trigo de tus manos amadas
pasar una vez más sobre mí su frescura:
sentir la suavidad que cambió mi destino.

Quiero que vivas mientras yo, dormido, te espero,
quiero que tus oídos sigan oyendo el viento,
que huelas el aroma del mar que amamos juntos
y que sigas pisando la arena que pisamos.

Quiero que lo que amo siga vivo
y a ti te amé y canté sobre todas las cosas,
por eso sigue tú floreciendo, florida,

para que alcances todo lo que mi amor te ordena,
para que se pasee mi sombra por tu pelo,
para que así conozcan la razón de mi canto.


Pablo Neruda

Si, no quiero!


"No quiero ser sin que me mires..."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Alentejo Seen From The Train


Nothing with nothing around it
And a few trees in between
None of wich very clearly green,
Where no river or flower pays a visit.
If there be a hell, I've found it,
For if ain't here, where the Devil it is?

Fernando Pessoa

terça-feira, 5 de abril de 2011

...

Uma saudade...


...que me envelhece a alma e me escurece os dias...

o teu sabor...


...povoa-me todos os sonhos!

domingo, 3 de abril de 2011

Porquê?


“É-me muito difícil levantar-me da cama quando o despertador toca. Mais difícil ainda é percorrer o dia que me aguarda. O que, dantes, me dava prazer, agora, nem interesse me desperta e apenas quero estar só, deixar que as lágrimas me escorram, ficar na falta de esperança, ficar quieta e não sentir, nem a tristeza escura que se abateu sobre mim, nem o peso da angústia que repousa sobre o meu peito e me dificulta o respirar.”

Quem sou?!


“Dói-me o corpo, dói-me a vida, dói-me o sono, que teima em não vir. Dói-me a incerteza e dói-me o espaço de um futuro que me constrange. Doem-me os fantasmas que deveriam ter ficado num passado que não escolhi. Dói-me o medo de estar só e o medo da companhia. Dói-me o presente, dói-me a alma, que não tem nem matéria que lhe permita doer, nem o direito de o fazer.”

Rotação



É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.

Nuno Júdice

Jogo


Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.

Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

Definição


(...) O amor
é esse contacto sem espaço,
o quarto fechado das sensações,
a respiração que a terra ouve
pelos ouvidos da treva.

Nuno Júdice, in "Um Canto na Espessura do Tempo"


Carta (Esboço)



Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação ;
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

Confissão


De um e outro lado do que sou,
da luz e da obscuridade,
do ouro e do pó,
ouço pedirem-me que escolha;
e deixe para trás a inquietação,
a dor,
um peso de não sei que ansiedade.

Mas levo comigo tudo
o que recuso. Sinto
colar-se-me às costas
um resto de noite;
e não sei voltar-me
para a frente, onde
amanhece.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Escrevo todos os dias...


... o amor que não fizémos!