Espaço de emoções sentidas? Memórias?Estados de alma?Desabafos?Palavras ditas e outras que ficaram por dizer?

Tributo a poetas? Pequenas homenagens?

Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?


Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Quem me dera...






                       Quem me dera que eu fosse o pó da estrada 
                       E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

                       Quem me dera que eu fosse os rios que correm 

                       E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

                       Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio 

                       E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .

                       Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro 

                       E que ele me batesse e me estimasse...

                        Antes isso que ser o que atravessa a vida 

                        Olhando para trás de si e tendo pena ...


                            Alberto Caeiro(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Prisioneira




                             
             Para onde fugir? Tu enches o mundo. Não posso fugir de ti senão em ti.

Margueritte Yourcenar

Quando eu partir...


... numa pequena mala caberão os momentos felizes vividos...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

É sempre cedo de mais...(quando um poeta morre)!

                                                                      1943-2012


«Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.»



  Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

Amo...

... o teu cheiro nos meus dedos!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Neste outono...


Neste outono, as pedras agasalham-se no cobertor
do musgo; e o barro bebe a água; e o vento viaja rente
aos muros. Mas eu, sem ti, deito-me gelada sobre a cama
e digo palavras que queimam a boca por dentro ― amor,

saudade, o teu nome e os nomes das coisas que tocaste
(e sobre as quais deixo crescer o pó, para que os dias
não se decalquem sempre de outros dias). Fecho os olhos

depois sobre a almofada e vejo o rosto branco da casa
desenhar-se à medida da tua ausência: as janelas abrem-se
para a solidão dos becos e há um farrapo de luz sobre a porta
a que ninguém virá bater. pergunto-me onde anda a tua
sombra quando aqui não estás. E tenho medo. São estes

os solavancos de uma ida pequena ― bordar uma toalha
para logo a manchar de vinho, sentir a ferida na distância
do punhal, viver à espera de uma dor que há-de chegar.



Maria do Rosário Pedreira


À tua espera...

"... sei que um poema se escreveria entre nós dois..."



sexta-feira, 5 de outubro de 2012