Espaço de emoções sentidas? Memórias?Estados de alma?Desabafos?Palavras ditas e outras que ficaram por dizer?

Tributo a poetas? Pequenas homenagens?

Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?


Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!

domingo, 18 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ainda que sem esperança...


(...) eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas"

sábado, 3 de dezembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Foi apenas mais um dia...



Hoje venho dizer-te que nevou
no rosto familiar que te esperava.
Não é nada, meu amor, foi um pássaro,
a casca do tempo que caiu,
uma lágrima, um barco, uma palavra.
Foi apenas mais um dia que passou
entre arcos e arcos de solidão;
a curva dos teus olhos que se fechou,
uma gota de orvalho, uma só gota,
secretamente morta na tua mão.

                                                                  Eugénio de Andrade

Quem disse?

Quem disse que o teu nome é uma espada
e as tuas mãos dois rios transparentes?
Quem te acordou naquela madrugada?
O voo da águia? O silvo das serpentes?

Quem sabe que és a minha namorada
e me guardas os beijos mais ardentes?
Quem fez uma canção desesperada
com o sexo dos anjos impotentes?

Ó meu amor, quem foi?, quem foi que disse
que se durante a noite alguém nos visse
fazendo amor de corpos abraçados

nos faria morrer de orgasmo e sede
ou apenas, encostados à parede,
em nome da alegria fuzilados?

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dis-moi!


"Si je n'ai pas senti ton parfum,
Ni ton odeur d'homme,
D'où vient ce sentiment
Qui me nourri et me consomme?"

domingo, 27 de novembro de 2011

Para ti, M., meu amor!

Amar a vida inteira

Amo-te. Basta-me um pássaro,
uma árvore
para me transportar ao jardim
de ti - um livro, uma palavra, o peso
do silêncio
para me levarem ao poço de ti,
aos teus olhos que ofuscam
o cristal da manhã; à tua boca
aproximando-se da minha pele
como se regressasse a casa.
Cantar-te é desfazer o nevoeiro da minha vida,
desfiar uma chama, ardendo lenta,
que não se via. E basta-me um vinho
ou a tua língua
ou a memória dela
para que em mim disparem águas
trémulas - ainda são - e por isso
quando te amo
sou um pouco essa montanha que tece com o vento
uma combustão muito lenta muito paciente
como se todo o fulgor da vida
se concentrasse nos vales e nos rios do teu corpo
inesgotável. Amo-te. Basta-me
um sorriso para que se abram
veias adormecidas - um gemido,
e entro em fontes como se delas
nunca tivesse saído. Águas distantes
que me inundam.

(Casimiro de Brito)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

Por siempre tu...



...mi grande amor, aún!

Si me amaras...

... otro seria mi destino!

Y sin embargo...

...te quiero!

Na utopia...

...da espera!

Dentro de mim...

... guardo todos os abraços que me prometeste... e sobra, ainda, tanto espaço!

Olho-te...

... e abraço-te com  uma vontade que me molha a alma!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

Vida sem cor




  ... onde estão as cores com que pintaste os meus dias ?




  

I can't refuse the call !

Cruel, ....



... a Primavera que chega, tornando ainda mais intenso o vazio da tua ausência, e insuportável a memória da tua voz, repleta de palavras sábias, desenhando a vida, o prazer, a esperança... sobre a minha alma sem rumo...


Como me fazem falta as mãos da tua voz!

É dura...

                   ... a dor de apenas poder sonhar-te!


So hard to remember...

"Devolve-me aquele momento em que os teus olhos me vestiram de mel.

- Essa doce ternura -[A mais doce que o favo apertado da minha pele já provou.]
Devolve-me o toque que selou o teu rosto à eternidade dos meus dedos.
Devolve-me a tua voz a desenhar-nos segredos.
Devolve-me a textura do susto e dos medos com que me despiste.
[Para que possa aprender-te, ainda.]

Devolve-me a promessa de me seres cais para sempre...

Pois de que me serve repetir-me para o mundo todos os dias
Se não posso repetir-me contigo nunca mais?"

I'll never find someone like you! (I'm sure!)

Of course you don't !

domingo, 1 de maio de 2011

Quando eu morrer...

Quando eu morrer, deixa-me
a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.


Maria do Rosário Pedreira

Relendo coisas...

O casamento
O ataque ao casamento homossexual indicia uma fixação no sexo e no poder

«A converseta moralucha em torno do casamento dos homossexuais recorda-me aquele fulgurante poema de Sophia de Mello Breyner que começa assim: “As pessoas sensíveis não são capazes/ de matar galinhas/ porém são capazes/ de comer galinhas”. Não se pode chamar debate ou discussão ao que é apenas um tricô de preconceitos, uma espiolhagem salivante sobre a vida íntima dos outros. Os homossexuais têm o mesmíssimo direito ao casamento que todas as outras pessoas, porque o contrato de casamento não se estabelece a partir do tipo de práticas sexuais dos que o contraem. A “ideia” de que o casamento tem por objectivo a procriação, como afirma a dra. Manuela Ferreira Leite, não é confirmada pela lei de nenhum país democrático, talvez porque nem sequer se lhe pode chamar “ideia”: não passa de um fogacho de autoritarismo deslocado. O casamento não é fácil – e toda a gente sabe que não é a procriação o que o sustenta. Demasiadas vezes, pelo contrário, a mimosa prole estoira com essa relação de carne e alma entre dois adultos. Há gente para tudo, mas, em geral, o sexo não suporta a transfiguração dos amantes em papá e mamã.
O casamento é uma decisão extraordinariamente séria. Os heterossexuais tendem a esquecê-lo, porque podem casar e descasar sempre que lhes apetecer. Desde que procriem, segundo os fanáticos da procriação, não há problema. Mas basta olharmos à nossa volta para verificarmos que é exactamente esse o problema: o frenesim da procriação atenta contra os direitos dos procriados, aqueles a que na adolescência passamos a tratar por malcriados. As novas gerações crescem num hipermercado de mães e pais que mudam de mês a mês como as promoções especiais. O mais elementar bom senso confirmará que uma criança adoptada por um casal homossexual estável terá muito mais hipóteses de desenvolver as suas capacidades do que uma outra – e são tantas, basta abrir as revistas cor-de-rosa para o confirmar – que viva de “tio” em “tio”, de madrasta em madrasta, até à perda de referências final.
O bom senso só não nos pode meter isto pelos olhos dentro porque, em Portugal, o cenário de um casal homossexual com filhos é inexistente. Por causa da moral de esquina, hipócrita, opressora, da maioria amorfa. O lado esquerdo dessa maioria diz coisas como. “Eu não tenho nada contra a adopção por homossexuais, mas o problema é que a criança vai ser discriminada na escola”. Estes são os mesmos que há trinta anos diziam: “Eu não sou racista, mas não gostava que o meu filho casasse com uma negra porque as crianças seriam discriminadas na escola”. Agora abanam a cabeça, enervados, e dizem: “Não, não é a mesma coisa: porque a criança necessita de um modelo masculino e de um modelo feminino”. Que modelos são esses, nesta fase de mutação acelerada em que as mulheres ganham autoridade e os homens doçura? Que modelos eram esses – o pai que bebia e batia, a mãe que apanhava e chorava? O pai que mandava, a mãe que obedecia? O centro dessa maioria diz: “Não sou contra os casais homossexuais, arranjem-lhes leis que os protejam, mas não lhes chamem casamento”. Estes estão imbuídos de uma noção de superioridade: chamem-lhes outra coisa, para não atingirem essa coisa sublime a que só nós, os que fazemos o sexo do qual podem nascer bebés, temos direito. A direita dessa maioria diz simplesmente: “Vivam á a vida deles, mas discretamente”. Ou seja, às escondidas, como os senhores faziam filhos às criadas.
O mundo já caminhou o suficiente (no Ocidente, claro), para entender que as crianças precisam de adultos que as amem. Um homem e uma mulher. Ou só um homem. Ou só uma mulher – os filhos dos viúvos, como se criam sem o tal modelo outro? Ou dois homens. Ou duas mulheres. As crianças precisam de modelos de amor. O amor, qualquer amor, ilumina. Os que se amam devem ter o direito à partilha e à herança um do outro. Devem ter o direito a acompanhar-se na saúde e na doença, em casa e no hospital, até ao último suspiro. As pessoas que pretendem negar a outras pessoas o direito ao casamento, fundamentando essa recusa no tipo de práticas sexuais dos outros, estão certamente a precisar de tratamento psiquiátrico. Porque só pensam em sexo e em poder, e há outras coisas na vida, muito mais importantes. A começar pelo amor.»

Inês Pedrosa
Revista Única- Expresso #1936 de 5/12/09 p.112

quarta-feira, 27 de abril de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Só Tu


De todas as que me beijaram,
De todas as que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei...
Foram tantas as que me amaram,
Foram tantas as que eu amei.
Mas tu, que rude contraste,
Tu que jamais me abraçaste,
Tu que jamais me beijaste,

Só tu nesta alma ficaste,
De todas as que eu amei...


Fernando Pessoa

domingo, 17 de abril de 2011

Só as tuas mãos trazem os frutos



Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos

Eis-me




Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente


Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

Solidão


Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas...
Mas sei por fim que sou do teu tamanho!


Pedro Homem de Mello

Um bom poema...


Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!

Mário Quintana

Toda a poesia


Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.

Fernando Pessoa

sábado, 16 de abril de 2011

Sem escolha...


Não sou poeta. Falta-me algo...
A dor, decerto não é. Tão pouco o amor, essa coisa sem tamanho que me tira o ar...e me ressuscita...
Falta-me o talento da palavra solta, o bem saber debochar das letras, o jogo do mostra-esconde das intenções.
Sou de terra, e por mais que crie asas, meus pés ainda assim terão raízes...
Dói-me tanto esse fixar-me!
Por que não nasci sob peixes?
Seria mais fluida talvez, menos objetiva, com menor senso prático, como convém a um poeta....
Quem sabe as crônicas?
As malditas crônicas da realidade, feitas de contas do final do mês, da novela das oito, dos porres tomados embaixo da mesa...
Dessas bem sei falar.
Mas o que quero é a poesia entranhada em meus cabelos, resistindo ao vento e à escova de cerdas sintéticas!
Quero-a correndo em minhas veias, disfarçada de hemácias, incógnita ao meu sistema de defesa.
Quero-a em minha boca...Na fumaça de meu cigarro, no ardor de uma bebida, na doçura de teu beijo!
Quero-a fluindo de mim, em gotas de suor, espalhando o meu cheiro pela sala de estar...
Quero vê-la no espelho que me reflete, escorrendo de meus olhos, inundando minha face de dor e alegria!
Quero-a eterna companhia.
Desejo gritá-la, cantá-la, senti-la definindo o tom de minha voz, a cor de meu olhar, o sentido de minhas palavras!
Mas facilmente descubro que querer não é poder...
São só palavras o que posso parir de minha alma. A poesia está restrita aos meus sonhos.
Não sou poeta. Apenas alegre, às vezes triste.
E assim vão passando os meus dias...
E assim vão passando os meus versos...
E assim vou passando!

Aila Magalhães

Tua


Devolvo-te...
Todos os beijos e abraços,
Devolvo-te os poemas e a infinita saudade...
Devolvo-te as noites insones
Devolvo-te as promessas
Os encontros furtivos sob o olhar do imprevisível...
Devolvo-te a intimidade
Devolvo-te os sonhos e também todos os planos
Tudo que foi dito, pensado, escrito, sentido, desejado
Todo o prazer consumado...
Devolvo-te toda a agonia, a espera,
Devolver-te-ia se pudesse até a lua...
Todos os sorrisos, todos os gozos...
Devolver-me-ia inteira... Sou tua!

Aila Magalhães

Desabafo


Estou tão cansada de esperar...
pelo dia que não vem,
pela chuva que não chega,
pelo mar que não traz de volta
o sonho que me levou um dia.
Ah! Como eu queria,
que a cada amanhecer
nascesse um novo dia
sem receios para recomeçar.

Andrea Lopes

... e eu que te amava tanto...


e eu que te amava tanto
ando suspeitando
que perdi algo em ti
perdi um pouco
do meu olhar
que se perdia no teu
perdi um pouco
de minhas mãos
que tocavam teu corpo
perdi um pouco
daquele gosto teu

e eu quem era quando te amava?
agora sinto-me assim tão solta
que vago pelas ruas respirando
tanta ausência tua
que sufoco a todo instante

Andréa Bianchi

Gostoso


Gosto de pensar.
Gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto de pensar.
Gosto do gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto gostoso de ti.
Gosto gostoso de ti.
Gosto de ti, gostoso.

Ana C. Pozza

Caleidoscópio


Não sei se foi com faca,
espada,
ou punhal!

Só sei que me feriram...
Com o golpe
eu me fiz em pedaços,
qual um espelho,
quando cai no chão!

E, agora,
cada vez que junto os cacos
sai uma mulher diferente...

Albertina Moreira Pedro

Quem és?!


És a loucura
da minha alma nua
do sonho que flutua
a luz da lua
Desta ferida crua
da vida que continua!...

Daisy Maria Gonçalves Leite

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Que poderia dizer-te...


Que poderia dizer-te, amor meu
que já não tenhas percebido
em meus olhos
que já não tenhas pressentido
em meus gestos
que já não tenhas observado
em minhas inquietações?
Que poderia dizer-te, amor meu
que já não tenhas sentido
em meu olhar sedento de ti
que já não tenhas lido
em minhas humildes palavras
que já não tenhas vivido
em nossas vidas passadas?
Que novas palavras teria que inventar
para mostrar-te a grandiosidade
deste sentimento que nos une,
a força impetuosa deste amor
tão meu, tão teu, tão nosso!
Que outras poesias teria que criar
para enaltecer meu amor por ti,
amor que me faz transcender
minhas próprias limitações
e que faz de mim tua companheira imortal...
Que mais poderia dizer-te, amor meu
além de confessar que te amo?

Luh Oliveira

Ellas se masturban


Y no me equivoco
cuando me invoco,
no me equivoco cuando
me prognostico, me incito.
No me equivoco
cuando me disparo un tiro
de amor propio
justo en mi centro
del centro
de mi centro
para asesinar al fantasma de
soledad y miedo
que cada noche aborda mi cama,
invade mi aire,
viola mis sueños
o escupe en mi cara.


NURIA MEZQUITA

Quando yo muera


Cuando yo muera quiero tus manos en mis ojos:
quiero la luz y el trigo de tus manos amadas
pasar una vez más sobre mí su frescura:
sentir la suavidad que cambió mi destino.

Quiero que vivas mientras yo, dormido, te espero,
quiero que tus oídos sigan oyendo el viento,
que huelas el aroma del mar que amamos juntos
y que sigas pisando la arena que pisamos.

Quiero que lo que amo siga vivo
y a ti te amé y canté sobre todas las cosas,
por eso sigue tú floreciendo, florida,

para que alcances todo lo que mi amor te ordena,
para que se pasee mi sombra por tu pelo,
para que así conozcan la razón de mi canto.


Pablo Neruda

Si, no quiero!


"No quiero ser sin que me mires..."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Alentejo Seen From The Train


Nothing with nothing around it
And a few trees in between
None of wich very clearly green,
Where no river or flower pays a visit.
If there be a hell, I've found it,
For if ain't here, where the Devil it is?

Fernando Pessoa

terça-feira, 5 de abril de 2011

...

Uma saudade...


...que me envelhece a alma e me escurece os dias...

o teu sabor...


...povoa-me todos os sonhos!

domingo, 3 de abril de 2011

Porquê?


“É-me muito difícil levantar-me da cama quando o despertador toca. Mais difícil ainda é percorrer o dia que me aguarda. O que, dantes, me dava prazer, agora, nem interesse me desperta e apenas quero estar só, deixar que as lágrimas me escorram, ficar na falta de esperança, ficar quieta e não sentir, nem a tristeza escura que se abateu sobre mim, nem o peso da angústia que repousa sobre o meu peito e me dificulta o respirar.”

Quem sou?!


“Dói-me o corpo, dói-me a vida, dói-me o sono, que teima em não vir. Dói-me a incerteza e dói-me o espaço de um futuro que me constrange. Doem-me os fantasmas que deveriam ter ficado num passado que não escolhi. Dói-me o medo de estar só e o medo da companhia. Dói-me o presente, dói-me a alma, que não tem nem matéria que lhe permita doer, nem o direito de o fazer.”

Rotação



É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.

Nuno Júdice

Jogo


Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.

Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

Definição


(...) O amor
é esse contacto sem espaço,
o quarto fechado das sensações,
a respiração que a terra ouve
pelos ouvidos da treva.

Nuno Júdice, in "Um Canto na Espessura do Tempo"


Carta (Esboço)



Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação ;
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

Confissão


De um e outro lado do que sou,
da luz e da obscuridade,
do ouro e do pó,
ouço pedirem-me que escolha;
e deixe para trás a inquietação,
a dor,
um peso de não sei que ansiedade.

Mas levo comigo tudo
o que recuso. Sinto
colar-se-me às costas
um resto de noite;
e não sei voltar-me
para a frente, onde
amanhece.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Escrevo todos os dias...


... o amor que não fizémos!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Naquela noite...

Naquela noite...

Quando o meu corpo tocou o teu,

Suei um prazer macio e doce

E voei no sonho que foi ter-te...

Ali, naquele instante sublime e efémero,

Entrei num mundo mágico que foi só meu

E, depois...

Depois, receei tirar-te ao teu descanso merecido,

E deixei que, por breves horas, dormisses...

Não podia, mas desejei tocar-te toda a noite

E, desperta, enchi meu coração de ti,

Para te sentir dentro de mim, quando partisses...

Sei que, na verdade, não te tive,...

Sei que não sentiste a dor que instalaste no meu peito,

Quando disseste :" Vamos?"

Sei, ... creio..., que tudo não passou, afinal,

Do tal sonho em que voei...

Mas sinto, ainda, no meu rosto,

O vento inesperado e seco que, durante a noite, se levantou,

E que, junto com as folhas sangrentas e tristes das árvores semi-despertas,

te arrancou de mim e te levou,

envolto na nuvem cinzenta e lenta que passava...

Atrás de mim, não pudeste ver as amargas lágrimas

que caíam, vagarosas, na minha face pálida,

tornando o meu corpo um castelo de areia,

pronto a desfazer-se, moribundo, e já saudoso de ti!




(Textos que gosto de reler)


Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.


(Arnaldo Jabor)

Amar não é Ser Egoísta

Tenho a certeza que tu és o meu maior amigo, o mais dedicado, o melhor de todos. Como eu o vi hoje bem! Como tu és leal e bom! Tão diferente de todos os outros homens que para te pagar o que no futuro hei-de dever-te, será pequena a minha vida inteira, mesmo que ela seja imensa. Os outros, amando as mulheres, são como os gatos que quando acariciam, é a eles que acariciam. Amar não é ser egoísta, é tantas, tantas vezes o sacrifício de nós próprios! A dedicação de todos os instantes, um interesse sem cálculo, uns cuidados que em pequeninas coisas se revelam e o pensamento constante de fazer a felicidade de quem se ama.


Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)