
Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo das sombras
que desfilam pelas paredes como fantasmas da casa
e de tudo aquilo com que sonhes.
Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira
de A Casa e o Cheiro dos Livros
Belissimo poema!
ResponderEliminarUm grade abraço.
Um abraço também para si, Nilza.
ResponderEliminarQue bom que você gostou do poema.M.R.P. é uma das minhas poetisas preferidas.Tem mais uns quantos poemas dela por aqui e acho todos lindos.
Beijos