Pio Vargas seria o maior poeta de seu
tempo. Mas morreu antes dele. A carreira meteórica do autor de “Anatomia do
Gesto” e “Os Novelos do Acaso” foi interrompida tragicamente, aos 26 anos, por
uma overdose de cocaína, na tarde de 8 de março de 1991. Pio Vargas foi
apontado por Paulo Leminski como um dos mais criativos poetas de sua geração:
“Pio Vargas tem um ‘eu’ coletivo tão forte que chego a vê-lo muitos. De sua
poesia consigo extrair a certeza do que digo, insistente: há uma geração
recente que usa e abusa da modernidade, fazendo dela o principal elemento a
interferir na criação. Este Pio Vargas me trouxe uma poesia fascinante que não
se atrela a falsos modelos de invenção, mas flutua, inventiva, com os mais
amplos e possíveis signos do fazer poético”.
in Revista Bula, Carlos Willian Leite
in Revista Bula, Carlos Willian Leite
A mulher que quero
Eu quero uma mulher de aço
que seja leve como a pena,
cujo sorriso seja um laço
a me prender como um poema.
Eu quero uma mulher madura
a me guiar durante o dia,
quando for noite ser vadia
a me domar sem armadura
e a me tomar como num sonho,
uma mulher que seja a lua
dentro do sol em que me ponho.
Eu quero uma mulher de ferro
com um aplauso pra quando acerto
e um perdão pra quando erro,
como alguém que seja o brilho
dentro do escuro em que me encerro.
Uma mulher que seja plena
uma amante de verdade
que seja motivo de lembrança
e um intervalo na saudade
que, diurna, me cuida,
mas que, noturna me invade.
Eu quero uma mulher-mãe
que seja vinho, cerveja,
refrigerante, champanhe,
que me entenda se viajo
e se fico me acompanhe.
Eu quero uma mulher toda
que me edifique como homem
e algo depois me exploda.
Pio Vargas
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