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sábado, 19 de janeiro de 2013

Um Bom Pai!!!


Querido Pai,

Perguntaste-me recentemente por que razão eu afirmo que tenho medo de ti. Como é habitual, não sabia o que responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de ti, em parte porque são tantos os pormenores que justificam esse medo que eu não seria capaz de os manter minimamente coesos ao falar. E se procuro responder-te agora por escrito, só o conseguirei fazer de forma muito incompleta, porque também na escrita o medo e as suas consequências me embaraçam face a ti e porque a importância do assunto ultrapassa largamente a minha memória e o meu entendimento. (…)
Também é verdade que praticamente nunca me bateste a sério. Mas a gritaria, a forma como a tua cara ficava vermelha, a pressa com que desprendias os suspensórios, o facto de estarem sempre à mão sobre o encosto da cadeira, quase era ainda pior. É como quando alguém sabe que vai ser enforcado. Se é mesmo enforcado, então morre e acabou-se tudo. Mas se o obrigam a assistir a todos os preparativos para o enforcamento e só toma conhecimento do perdão quando já tem a corda ao pescoço, então vai ficar a sofrer durante toda a vida. Ainda por cima, de todas as vezes que eu teria merecido pancada segundo a tua opinião claramente expressa e escapava à tangente graças à tua misericórdia, acumulava-se novamente um grande sentimento de culpa. Fizesse o que fizesse, acabava sempre por ter culpa.
Desde então acusavas-me ( a sós ou perante outras pessoas, já que eras insensível à humilhação que eu pudesse sentir e os assuntos relacionados com os teus filhos eram sempre públicos ) de que era à custa do teu trabalho que eu vivia sem que nada me faltasse, em paz, no conforto e na abundância. (…)

Franz Kafka, Carta ao Pai

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