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quarta-feira, 16 de março de 2011

São as mãos...


são as mãos que me trazem o amor dos homens
e me largam na fronteira de todos os segredos
que repousaram em mim como no breve espaço
de uma lua fugaz

também as tuas mãos haviam de chegar um dia assim
ou pelo menos foi isso que eu pensei quando
o teu corpo tocou ao de leve a sombra das águas
que tinham corrido ao longo das noites da tua ausência

mas às vezes o destino escreve-se
com inesperados visitantes
e o nosso quarto ficou cheio de vozes mas
nenhuma nos reconhecia por dentro das suas
mais absurdas dissonâncias

e foi então que eu soube que a felicidade
era apenas um complemento
muito circunstancial e remoto de lugar onde

em que nenhum passado que nos pertencesse
faria qualquer sentido

apesar de tudo os meus dedos
ainda procuram reter o sôfrego sabor das horas que faltam
para o prometido regresso
das palavras tecidas de fresco entre a penumbra
das nossas pernas

mas houve sempre desígnios imutáveis
eclipses ravinas ou a ácida saliva das marés
ou simplesmente a ferida de quem vinha
em voz baixa reclamar o que lhe fora roubado
e os meus dedos acabavam por recuar

e as palavras com que em tempos
tinhas esperado por mim
cansaram-se
e são hoje nódoas rosadas no meu corpo

como se o meu corpo fosse um mapa
onde o teu corpo deslocou minúsculas bandeiras
em tempo de guerra


Alice Vieira

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