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terça-feira, 8 de março de 2011

vens de repente...


vens de repente com a voracidade
de um pássaro nocturno que não chamei
e a porta fecha-se sobre as minhas ancas
e a noite bebe o hálito que largas na minha pele
enquanto os espelhos escondem o rasto
de todos os segredos que guardavas

por momentos o amor desenha-se desta única maneira
mas eu sei que és apenas um inquilino temporário
habitando o meu corpo as horas que roubaste
em ondas de culpa e sombra

e sei também que hás-de sair de mim
como de um povo inimigo
procurando um gesto de perdão que não existe
e o amor torna-se subitamente num lugar incómodo
tenho pressa dirás tenho pressa
e a noite fecha-se do lado dos dedos
que procuram ainda o lugar do sono

fica comigo peço mas tu não me ouves
e eu sei que vou voltar a esperar por ti na vida que me resta
e em todas as vidas e em todas as mortes
até ao dia em que difinitivamente
despeças o teu corpo do meu
e eu repita fica comigo e tu
desapareças

como quem esteve só à espera
de ventos favoráveis

Alice Vieira

1 comentário:

  1. E a cada espera é como se fosse um parto, o parto da dignidade metafisica feminina, comprazer-se na espera que as vezes já nem sabemos mais porque e por quanto tempo esperaremos.
    A espera da morte ou das despedidas, até lá, nós morremos inúmeras vezes no leito da imorredoura espera.

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