"A poesia não está somente nos versos, por vezes ela está no coração, e é tamanha, a ponto de não caber nas palavras " (JORGE AMADO)
Espaço de emoções sentidas? Memórias?Estados de alma?Desabafos?Palavras ditas e outras que ficaram por dizer?
Tributo a poetas? Pequenas homenagens?
Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?
Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!
Tributo a poetas? Pequenas homenagens?
Talvez tudo isso ou, apenas, exorcismo e catarse da alma?
Seja como for, "esta espécie de blog" não pretende ser nada, a não ser o reflexo do que SOU e SINTO!
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Pudesse eu ...
Pudesse eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite
–e deitar-me na terra;
e ter uma cama de pedra branca e um cobertor de estrelas;
e não ouvir senão o rumor das ervas que despontam de noite,
e os passos diminutos dos insectos,e o canto do vento nos ciprestes;
e não ter medo das sombras,nem das aves negras nos meus braços de mármore,
nem de te ter perdido – não ter medo de nada.
Pudesse eu fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo
– das tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite;
de não teres dito a única palavra que me faria salvar-te,
mesmo deixando que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo já tinha desistido,
que ias matar-te em mim e que era tarde para eu pensar
em devolver-te os dias que roubara.
Pudesse eu cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi
– porque foi pelo poema que me amaste,
o poema foi sempre o que valeu a pena
(o mais eram os gestos que não cabiam nas mãos,
os morangos a que o verão obrigou);
e pudesse eu deixar de escrever esta manhã,
o dia treme na linha dos telhados, a vida hesita tanto,
e pudesse eu morrer, mas ouço-te a respirar no meu poema.
Maria do Rosário Pedreira
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